BREVE RELATO SOBRE A MICRORREGIÃO DE SÃO FÉLIX DO XINGU
Emílio Campos Mendes, Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Regional e Urbano na Amazônia (PPGPAM), Mestrando, UNIFESSPA. emilio@unifesspa.edu.br.
Daniel Nogueira da Silva, Programa de Pós-Graduação em Economia pela UFPA, Doutor, Unifesspa. daniel.nogueira@unifesspa.edu.br.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é parte de um estudo sobre as microrregiões do Sudeste paraense, que está sendo desenvolvida por alguns membros do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (LACAM), este laboratório visa construir uma Matriz de Insumo Produto para esta mesorregião. Neste sentido, há a necessidade de se conhecer algumas particularidades dos municípios presente no Sudeste do Pará. Para tanto, aqui apresentaremos alguns dados sobre a microrregião de São Félix do Xingu.
MICRORREGIÃO DE SÃO FÉLIX DO XINGU, DADOS PARA O PERÍODO DE 2002-2017
A microrregião de São Félix do Xingu é uma das sete microrregiões que compõe o Sudeste paraense. Formada por cinco municípios, Bannach, Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte, São Félix do Xingu e Tucumã, entre eles, o que dá nome a este território, o município de São Félix do Xingu que possui o maior rebanho bovino do país, com cerca de 2.240.496, no ano de 2017, de acordo o IBGE (2020). Vale ressaltar que de acordo Michelotti (2019) esse efetivo bovino se concentra na pecuária de corte, pois houve uma redução da relação produção de leite/rebanho. Podendo indicar um avanço do agronegócio na região.
Os municípios que formam a microrregião de São Félix do Xingu faziam parte de um único município até 1988, sendo denominado “São Félix”. Após essa data o processo de colonização ocasionou nesses cinco municípios, com sua própria diversidade econômica, que neste sentido, será analisada a partir de alguns dados disponíveis no IBGE.
De acordo os dados do IBGE (2020), a microrregião vem apresentando um aumento considerável em seu PIB, a preços correntes (MIL REAIS), saindo de R$ 382.993 no ano de 2002 para R$ 3.041.589 em 2017, um crescimento médio de 13,8% ao ano. Mesmo com esse crescimento, essa microrregião manteve sua participação no PIB do Sudeste paraense quase que inalterada. Em termos relativos a participação de 2017 foi menor que a participação encontrada em 2002, cerca de 5,28% e 5,58% respectivamente. Já a participação no PIB do estado houve um pequeno crescimento, saindo de 1,45% em 2002, para 2% em 2017.
O município de São Félix do Xingu apresentou, entre 2002-2017, uma média de 45,5% da produção da microrregião, quase metade do PIB de toda a microrregião. Provavelmente pelo seu alto desempenho na criação de bovinos, pois do valor total adicionado da agropecuária da microrregião, 57,65% veio deste município, em 2017 e de acordo dados do Censo Agropecuário (2020), 87,30% do valor da produção dos estabelecimentos agropecuário vem dos animais de grande porte.
Acompanhado de Tucumã e Ourilândia, respectivamente com 24,8% e 17,7% de participação no PIB, como pode ser observado no gráfico abaixo. Esses dados mostram que há uma disparidade no peso relativo dos municípios no PIB da microrregião, pois enquanto São Félix do Xingu detêm quase metade da produção, Bannach participa apenas com 2,5% do PIB da microrregião. Em relação a mesorregião o município de São Félix do Xingu chegou a participar em 2016 com 3,08% do produto interno bruto, caindo para 2,4% no ano seguinte.
Assim como a mesorregião aumentou sua participação na contribuição dos impostos do estado de 17,8% em 2002 para 24,3% em 2017, a microrregião do São Félix do Xingu também teve um crescimento significativo. Saltando de 3% no ano de 2002, para 8,16%, em 2017, de participação na mesorregião e dobrando sua participação nos impostos do estado.
Gráfico 1 - PIB a preços correntes dos municípios e da microrregião de São Félix do Xingu
Esta microrregião tem ainda uma participação de 5,33% no valor adicionado bruto da mesorregião Sudeste paraense no início do período demonstrado. Dentre os municípios da microrregião, São Félix do Xingu contribuiu com 46% do valor adicionado bruto em 2002, no último ano do período analisado pouco se alterou chegando a 47,5%, seguido de Tucumã que apresenta metade do valor de São Félix do Xingu, 23,7%. Dito isto, percebe-se que apenas dois municípios contribuíram com quase ¾ do valor adicionado bruto no ano de 2017.
Analisando o valor adicionado bruto por setor temos que, o valor adicionado da agropecuária na microrregião de São Félix do Xingu representou 5,33%, em 2017, do valor adicionado deste setor no estado do Pará. Dentre os municípios da microrregião, São Félix do Xingu foi responsável por 57% do valor total adicionado da agropecuária da microrregião, seguido de Cumaru com 21%. O quadro abaixo demonstra a média de participação dos municípios nos setores do valor adicionado da microrregião, podemos observar que o município de São Félix do Xingu tem uma participação mais isolada dos outros municípios nos setores da agropecuária e da administração pública, do lado oposto dos dados tem-se o município de Bannach, que apresenta as menores participações na produção da microrregião.
Quadro 1 - Média da participação de cada município nos setores do valor adicionado total da microrregião de São Félix do Xingu entre 2002 e 2017
Município/Setor |
Agropecuária |
Indústria |
Serviços |
ADM |
Bannach |
6,43% |
1,18% |
1,90% |
3,61% |
Cumaru do Norte |
18,69% |
3,10% |
3,37% |
7,33% |
Ourilândia do Norte |
6,75% |
38,99% |
23,44% |
19,86% |
São Félix do Xingu |
55,76% |
21,33% |
30,11% |
47,38% |
Tucumã |
12,37% |
35,41% |
41,17% |
21,83% |
Total |
100 |
100 |
100 |
100 |
Fonte: Elaboração com base nos dados do SIDRA.
O gráfico abaixo apresenta a participação de cada setor no valor adicionado total da microrregião do São Félix do Xingu. Em 2002, o valor adicionado da indústria representava 5,83% do valor adicionado total, da microrregião, apresentando seu pico em 2014 com 26,47%, no ano seguinte tem uma redução significativa para 15,67% chegando há 14,23% em 2017. De acordo os dados encontrados no Sidra (2020) o município de Ourilândia apresenta um valor adicionado da indústria bastante oscilante, após uma redução saindo de 40,58% para 25,15% entre 2012 e 2013 tem um aumento expressivo para 59,08% em 2014 e reduz novamente nos anos seguintes.
Enquanto em alguns municípios ampliou-se o peso do setor agropecuário, em outros foi o setor de serviço que aumentou sua participação. O setor de serviços da microrregião de São Félix do Xingu mantém um certo padrão, como demonstrado no gráfico, apresentando sua maior participação no valor adicionado total em 2009, quando o setor chega a 30,4%. O município de Ourilândia saiu de 23,02%, em 2002, para 39,12% da participação do valor adicionado de serviço em relação ao valor adicionado total em 2017. No município de Tucumã o valor adicionado do setor de serviços tem uma grande representatividade do valor adicionado total, se mantendo ao longo do período de análise na média dos 40%.
Gráfico 2 - Participação dos setores no valor adicionado da microrregião de São Félix do Xingu
Tratando-se do setor da administração pública, a microrregião tem seu pique em 2017 quando chega 26,36%. O município de Ourilândia apresenta oscilação em relação ao valor adicionado total, sendo sua menor participação em 2014 com cerca de 12,36% e depois salta para 28,52% no ano de 2017.
A microrregião de São Félix do Xingu cresce a uma taxa média do período bem acima da taxa apresentada pela mesorregião, com cerca de 15,7% de crescimento médio e a mesorregião com 7,6%, como pode ser visto no gráfico abaixo. No ano de 2015 a microrregião apresentou o menor crescimento entre os anos de 2002 e 2017, com apenas 0,27%. O município de Ourilândia apresenta uma média de 23,78% ao longo desses anos, isso se dá devido ao crescimento expressivo e contínuo entre os anos de 2006 e 2008, após esse ano o município apresenta oscilações em sua taxa de crescimento, se observamos os dados dos três últimos anos de análise, 2015, 2016 e 2017, há uma queda média de -7,55%.
Enquanto Ourilândia se destaca com a maior taxa de crescimento o município de Bannach apresenta o inverso, se destacando com a menor taxa de crescimento médio 8,4%, como demonstrado no gráfico abaixo, assim como os outros municípios também apresenta oscilações em seu crescimento, chegando a decrescer -15% em 2005 e crescendo 23% no ano de 2011. Os municípios de Cumaru, São Félix e Tucumã apresentaram taxas de crescimento médio próximas da encontrada para a microrregião, mas entre os anos de análise, 2002 a 2017, tiveram taxas oscilantes, da mesma maneira que Bannach e Ourilândia.
Gráfico 3 - Taxa média do crescimento real dos municípios e da microrregião de São Félix do Xingu de 2002 a 2017
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, no município de São Félix do Xingu, assim como os demais municípios que compõe a microrregião, fica evidente através dos dados demonstrados, o viés da expansão da fronteira agropecuária. Indo de encontro com uma das hipóteses de Santos (2017), que em seu texto aponta que o dinamismo do Sudeste paraense se formou por meio da frente de expansão agropecuária, ou pela frente de expansão mineradora. O autor nos diz ainda que o crescimento do rebanho bovino se dá como forma de se apropriar de novas áreas de terras, através de grilagem e desmatamento ilegal, intensificando os conflitos agrários.
REFERÊNCIAS
CPT – Comissão Pastoral da Terra. Disponível em: https://bit.ly/2G67w7L. (2018).
IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Censo Agropecuário 2017. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017#topo-pagina (2020).
IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Produto Interno Bruto dos Municípios. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br (2020)
MICHELOTTI, F. Territórios de produção agromineral: relações de poder e novos impasses na luta pela terra no sudeste paraense. (2019).
SANTOS, V. M. dos. A Economia do Sudeste Paraense: Evidências das Transformações Estruturais. Desenvolvimento Regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas. (2017).
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